Taxonomia geracional
- Nicole Quintão
- 22 de nov. de 2017
- 7 min de leitura
Geração X, Y ou Z?
Categorizar os indivíduos apenas entre adolescentes, jovens e adultos não leva em consideração o contexto ou a época em que se vive cada fase. Logo, comparar um adolescente dos anos 1980 com um adolescente dos anos 2000 pode não ser uma boa medida. Já que o meio influencia nas vivências das pessoas, surge a necessidade de categorizar as gerações. Assim, torna-se mais fácil traçar um perfil para cada fase, levando em conta a geração que aquela pessoa fez ou faz parte.
As três últimas letras do alfabeto estão entre as nomenclaturas que estabelecem a categoria das gerações.

Geração X – termo criado por Robert Capa, em 1950 – é utilizado para rotular as pessoas nascidas entre o início de 1960 e o final dos anos 1970. Uma geração que acompanhou grandes mudanças. Eles testemunharam a chegada do computador pessoal,da internet e viam na aquisição de um imóvel a segurança para os filhos que viriam.
A Geração Y compreende os que nasceram entre o início dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Uma geração que chegou em mundo já digital, e que se familiarizou com dispositivos móveis, bem como com a comunicação instantânea, adaptando-se a ser multitarefa.
A Geração Z é a dos que nasceram entre 1992 e 2010. São os chamados nativos digitais. No mundo em que nasceram, coisas como cartões telefônicos ou escrever cartas não eram mais usuais. Não viveram sem computador, são conectados.
O perfil da geração Y
Se você, assim como eu, também se assusta em pensar que o ano 2000 já ficou para trás há 17 anos, significa que você cresceu ou está crescendo e, cá entre nós, essa não é uma tarefa muito fácil. Se hoje você tem entre vinte ou trinta e poucos anos, você faz parte da geração Y. E iniciar a vida adulta em tempos de modificações nas leis trabalhistas e em meio a uma crise financeira, é um baita desafio.
Para adaptar-se às condições que a vida apresenta, a geração Y tem comportamentos bem diferentes do de seus pais, alocados lá na geração X. Para isso, alguns conceitos, vêm sofrendo redefinições.
Para a psicóloga Elisângela Pereira, os categorizados como geração Y não estão muito preocupados com o status, com o carro zero, em ter a casa própria. Na concepção dela, houve uma mudança na definição do "ser bem sucedido". "A preocupação é fazer viagens, conhecer lugares... Viver, ter experiências positivas. Isso conta muito mais do que a estabilidade tradicional que as outras gerações buscavam", esclarece Elisângela.
Para ilustrar tais mudanças, Elisângela faz menção ao coworking - método de trabalho que se dá em um espaço físico compartilhado. Num mesmo escritório há profissionais, muitas vezes, com áreas de atuação diferentes entre si. Ela avalia essa prática como um novo modo de trabalhar, que revela um novo tipo de profissional, o qual precisa, em alguns casos, apenas de uma mesa e um computador com internet. "O profissional precisa de pouco pra conseguir resultados positivos e isso é ser bem sucedido. Para a geração Y, estar feliz no que você faz, faz você ter sucesso no trabalho. Porque você trabalha com que gosta e não porque dá dinheiro. E assim você ganha dinheiro, porque faz bem feito", pondera a psicóloga.
Outra tendência de trabalho é o Home Office. A estudante Júlia Sales trabalha como Home Office há alguns meses. Antes, em uma bolsa de treinamento profissional da faculdade, ela já fazia um trabalho parecido, o que deu certa experiência no ramo, e permitiu perceber as vantagens e desvantagens do método de trabalho.
"O home office dá uma liberdade (pelo menos a sensação), você pode fazer viagens e trabalhar na praia, por exemplo, desde que você cumpra aquele horário estipulado pela empresa. Por outro lado, tem aquela história de "não leve trabalho pra casa". Conciliar as coisas de casa, como fazer comida e limpar, e trabalhar pode ser bem complicado no início", conta Júlia.
Júlia diz que as relações de trabalho mudam. Para a estudante, o fato de não ter contato diário com seus colegas de trabalho, pode afetar a formação quanto à socialização do profissional. Mas, por outro lado, ela enxerga como vantagem não ter a obrigação de estar em um lugar cumprindo horário, fazendo todo dia a mesma coisa. Muitas vezes não sendo tão produtivo quanto você poderia ser.
"Não ter um escritório físico não quer dizer que não converso com meus colegas de trabalho, pelo contrário, nós estamos muito mais conectados, literalmente. Criamos o vínculo da mesma forma", esclarece.
A estudante revela que tudo é muito novo para ela. Ainda está aprendendo muita coisa. Júlia percebe que, talvez, ter alguém do lado a faria aprender mais rápido, mas, na empresa em que trabalha, reuniões presenciais são feitas mensalmente e ali os balanços são feitos, do que foi bom e do que precisa ser ajustado. "Estou adorando essa nova experiência e, realmente, acho que é um tendência do mundo atual para os empregos e empresas que permitem essa forma de trabalho", reflete Júlia.
Bens culturais x bens materiais
A geração Y redefiniu o conceito de estabilidade e sucesso. A falta de estabilidade financeira afeta e prorroga outros planos comuns nessa fase, como a constituição de uma família ou mesmo a aquisição de um imóvel.
Os pertencentes à geração X, por exemplo, eram considerados bem sucedidos à medida que adquiriam bens físicos, como casa e carro. Esse até pode ser um dos alvos da geração Y, mas, há outras experiências e metas que os atraem mais.
Alguns da geração Y pesam mais as experiências do que a aquisição de bens materiais. Investir em uma viagem, mais possível hoje do que era em tempo atrás, para os nossos pais, por exemplo, talvez seja mais interessante do que investir em algo que possa desvalorizar com o tempo.
A estudante, Juliana Dias fez um intercâmbio no ano passado e, apesar de ter sido contemplada com uma bolsa, tinha planos de aproveitar a viagem para conhecer a Europa e, apenas o dinheiro da bolsa não seria suficiente para realizar isso. Ela se desfez de um bem material para custear essa experiência.
"Assim que eu soube que eu tinha conseguido a vaga na Universidade de Salamanca eu decidi vender meu carro. Primeiro porque seria um dinheiro que me ajudaria muito com os gastos de morar sozinha em um outro país e, segundo, porque se eu não vendesse, seriam seis meses de carro parado na garagem", esclarece Juliana.
A estudante diz que em nenhum momento teve dúvidas sobre vender, pelo contrário, o maior medo era não vender. "Valeu muito a pena! Além de me deixar mais tranquila com os gastos que eu tinha mensalmente, ainda foi fundamental pra eu poder fazer viagens aos finais de semana, feriados e fim de ano".
Juliana confessa que sente falta de dirigir, mas que, por outro lado, o carro a deixava mais acomodada. Agora ela se exercita mais, porque vai a pé a lugares mais próximos, o que com o carro não fazia. E também se atrasa menos, já que agora, por depender do ônibus, ela sabe que precisa sair de casa mais cedo. "Tive o privilégio de poder ter um carro que me garantiu essa graninha extra, não me arrependo e faria de novo se precisasse" conta.
Juliana recomenda que os gastos sejam sempre bem planejados por quem quer fazer um intercâmbio.
Home sweet Home
O corretor e avaliador de imóveis, Luiz Octavio Fontes, diz que na sua prática profissional percebe que o público mais jovem tem procurado mais por imóveis, porém, segundo ele, aos direcionados para o Programa Minha Casa Minha Vida, ou seja, imóveis de menor valor.
"Os imóveis enquadrados pelos programas de governo são os que mais se adequam à capacidade de endividamento da maioria dos jovens. No início da carreira a renda é menor e, na maioria das vezes, é a única opção, ainda que a longo prazo", explica Luiz. O corretor ressalta que, apesar da mudança geracional, o imóvel continua sendo um excelente investimento.
Uma pesquisa feita pelo ZAP, portal de classificados de imóveis e imobiliárias, revelou que os jovens solteiros da geração Y têm maior propensão ao aluguel. Segundo os dados, há 35% a mais de interesse em alugar um imóvel do que comprá-lo. Os motivos para tal comportamento são a maior mobilidade e também a dificuldade em conseguir a aprovação de crédito para financiamentos a longo prazo.
"Um jovem acostumado com tudo muito rápido, com a vida "Fast", como os da geração Y, encontra dificuldade de enxergar vantagem em um investimento que demora trinta ou vinte anos. Mesmo que saibam que um dia o imóvel será seu, não estão dispostos a esperar tanto tempo, preferem, muitas vezes, pagar aluguel. O imediatismo criou uma sensação de urgência". Elisângela Pereira, psicóloga.
A psicológa ressalta que os jovens, mesmo com condições para manter bens imóveis, preferem optar por outras alternativas, como a de não arcar com as despesas de um carro, por exemplo, já que conta com serviços como o Uber. Ou opta por usar a bicicleta, andar à pé, que são opções mais em conta. E, caso precisem de um carro, alugam e devolvem depois de utilizá-los. Elisângela acredita que a geração Y faz gastos mais conscientes.
Já para o corretor Luiz Octavio, apesar de haver uma procura do público jovem pelo aluguel, ele não enxerga que os financiamentos sejam descartados pelos da geração Y. "Os jovens que procuram por aluguel, em sua maioria, são os que estão longe de casa por motivos de trabalho ou estudo. Os jovens mais abonados talvez tenham procurado outros investimentos, mais são poucos e, acredito, que isso não afeta o mercado imobiliário em Juiz de Fora. Nas grandes capitais talvez possa causar um pequeno reflexo, mas pouco significativo", pondera o corretor.
A instabilidade emocional
"A triste realidade econômica do Brasil afeta todos os setores. Com o mercado imobiliário não é diferente. Os jovens sem emprego são como pássaros sem asas. Têm que ficar no ninho", ilustra o Luiz Octávio.
Ficar no ninho significa a prorrogação de muitos planos. Adiar a formação de uma família, o casamento, a conquista de um diploma em um curso superior, tudo isso pode gerar uma mal estar. A psicóloga Elisângela Pereira diz que jovens recém-formados, que não conseguem entrar no mercado de trabalho, por exemplo, ou os que conseguem mas são demitidos, ou ainda aqueles que tentam iniciar um negócio e não dá certo, sentem esse reflexo, muitas vezes, na aquisição de distúrbios psicoemocionais.
"Se você perde a estabilidade econômica as coisas ficam fora do prumo. Nessa hora, a mente precisa estar muito boa para que a pessoa possa usar esse momento para encontrar soluções para o problema", explica a psicóloga. A fim de evitar maiores problemas, Elisângela diz que vale a pena pesquisar na internet, onde, segundo ela, há boas dicas de economia doméstica, úteis no planejamento financeiro durante tempos de crise.
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