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Cultura à leilão

  • Geara Franco
  • 31 de out. de 2017
  • 4 min de leitura

Quanto valem os resquícios da cultura do cinema em Juiz de Fora?

Não sabe?

Te dou o valor exato: R$ 6.745 milhões. Esse foi o preço pago pelo último cinema de rua da cidade, o Cinearte Palace. O prédio foi arrematado em um leilão em abril do ano passado. A venda foi realizada pelo seu antigo proprietário, o Banco Bradesco, devido a uma antiga dívida com outra instituição.

E pensar que nossa cidade já contou com 25 cinemas de rua, ou seja, construções feitas especialmente para abrigar a tela, o filme, os espectadores e toda a cultura no telão. Hoje, o que temos são cinemas dentro de shoppings, o que, para alguns, faz com que assistir a um filme seja apenas... assistir um filme, mas sem o prazer de todo o ritual de estar num local idealizado especialmente para a apreciação da sétima arte.


Cinearte


Com as cortinas fechadas em junho de 2017, o Cinearte Palace, carinhosamente chamado apenas de Palace, pelos íntimos, fez parte da história de muitas pessoas devido à sua importância histórica, centralidade e tempo de existência: quase 70 anos.


O prédio foi inaugurado em 1948 com a exibição do filme "Quando os Deuses Amam", estrelado pela atriz Rita Hayworth, com lotação máxima de 1005 pessoas. Até bênção do Bispo Diocesano o prédio teve na inauguração, no dia 19 de novembro. Depois, a Família Caruso, então proprietária do local, fez a apresentação do espaço e ofertou os seus cumprimentos ao público. Diversas figuras importantes da época, tanto brasileiras, quanto estrangeiras, estiveram presentes para testemunhar o momento histórico da cidade.


O Palace entreteu e alegrou muita gente até 1984, quando foi fechado e assim permaneceu por 15 anos. Após esse período, o prédio localizado no coração de Juiz de Fora, o nosso querido Calçadão da Rua Halfeld, passou por uma grande reforma, que possibilitou a sua reabertura em 1999. Desde então, o Palace continuou sediando eventos da sétima arte, como o Festival Primeiro Plano, uma das mais importantes mostras de cinema da cidade, e servindo de ponto de encontro, no escurinho do cinema, como canta a roqueira Rita Lee.


Artes que se unem


Juiz de Fora estava em um momento de ascensão e a construção deveria representar isso, tanto nas aparelhagens, que não deixavam nada a desejar aos melhores cinemas do país e, quiçá, do mundo. A grandiosidade da construção impressionava a quem visitava o local, para as sessões que não paravam.

"A sala de espera era toda enfeitada com espelhos bisotê, importados da França. Finamente decorado, destacava-se ainda pela escada de mármore, pelos 16 lustres e a bomboniére, junto à janela de gradis de metal de onde se via a rua Batista de Oliveira. O prédio segue o estilo Art Déco, muito usado na construção de cinemas e teatros dos Estados Unidos", relata Franco Groia, cineasta e professor, no site História do Cinema Brasileiro.

Outro ponto alto da casa, era a quantidade de sessões diárias. Cinco filmes projetados de duas em duas horas, das 14h às 22h. Caso o filme excedesse as duas horas, novos horários eram abertos.

Uma vez cinema, sempre cinema?

Não! No terreno no qual hoje está o prédio do Palace, nem sempre teve um cinema. Antes da construção do nosso falecido cine, havia um Casarão Colonial que funcionava como uma loja de tecidos e utilidades, aliás, uma das mais renomadas da cidade, a Cyrino e Bartholo. Na década de 1920, o prédio foi destruído por um incêndio e deu espaço para a construção do Cinearte Palace, a qual teve início em 1941, após o Sr. Nassan José Assad requerer à prefeitura licença para dar início ao projeto.



Daqui pra frente (ou será pra trás?)

Sabemos que o prédio não será mais o então Cinearte Palace, que Deus o tenha, mas, então, o que vai ser? Será que os juizforanos estão ligados nisso? Veja!



Pois é! O prédio do antigo cinema será mais um "shoppinzinho". Ou seja, um conjunto de lojinhas em pleno coração da cidade. O interior da construção será totalmente reestruturado, sendo mantida apenas a parte exterior da obra original. Ainda não se sabe quais serão as lojas a ocuparem o espaço e nem quando isso vai ocorrer, já que as obras ainda não começaram. Nem mesmo a Doceria Brasil, que ficava no salão do prédio, está mais em funcionamento. A dona atual do prédio do Palace mantem-se afastada de entrevistas.



Acabando aos poucos


Entre os séculos XIX e XX, Juiz de Fora começou a abrir suas primeiras salas de cinema. Eram 25 no total, segundo pesquisa do Projeto História do Cinema Brasileiro. Todos eles foram fechados, alterados, tombados, vendidos ou destruídos, sobrando apenas para contar história. Confira os mais importantes para a história da cidade.

O que torna ainda mais impactante o fechamento do último, repito, ÚLTIMO cinema de rua de Juiz de Fora, é a fase de desvalorização da cultura no Brasil, a censura do que é ou não considerado arte. E, agora, perdemos mais uma importante luta com o fechamento do Palace, o que será sentido pelas pobres futuras gerações. Ou seja, não temos mais nenhum cinema que não seja em shopping. O que realmente teremos é mais um shopping.


É, parece que o filme acabou para a cidade...



Mas, calma! Ainda existem salas de cinema em shoppings da cidade onde você pode apenas assistir um filme. Confira onde:


UCI Kinoplex Independência

Av. Presidente Itamar Franco, 3600 - Av. Presidente Itamar Franco - Cascatinha


Cine Alameda

R. Morais e Castro, 300 - Passos

Novo Due Cinema Santa Cruz Shopping

Condomínio do Edificio Santa Cruz Shopping - R. Jarbas de Leri Santos, 1655 - Centro

Cinemais

Shopping Jardim Norte - Av. Brasil, 6345


Então vem pro cinema, bb! Aproveita enquanto ainda podemos.




 
 
 

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