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As curiosidades de uma espera feliz

  • Nicole Quintão
  • 15 de out. de 2017
  • 5 min de leitura

Pensar na expressão "espera feliz" provavelmente te faça pensar em algo planejado, aguardado e que alegra quando chega.

Não, não é dessa espera que estamos falando.

Você sabia que esse é o nome de um dos 853 municípios espalhados por Minas Gerais?

Sim. A cidade fica na Zona da Mata e abriga cerca de 25 mil habitantes. É uma típica cidadezinha do interior. Tem pracinha, chafariz, uma igreja matriz, o moço do picolé, tem charrete andando junto aos carros.

O centro da cidade é cercado por poucos bairros, o que faz com que as correspondências venham para o mesmo CEP. Por aqui, todo mundo conhece todo mundo. O vizinho é “gente de casa” e quem chega de fora fica sendo também. A visita é sempre recebida com cafezinho. E por falar em café, o grão daqui é famoso. Já foi eleito o melhor do Brasil e é ele que faz girar a economia da cidade.

Em Espera Feliz não tem praia, mas tem um monte de cachoeira, uma mais linda que a outra. Além de um dos ícones do montanhismo brasileiro: o Pico da Bandeira, terceiro pico mais alto do Brasil, com 2.891 metros de altitude. O pico recebe muitos turistas e fica dentro do Parque Nacional do Caparaó. Entre os meses de junho e julho é que as trilhas normalmente são feitas. A subida é uma aventura, um esforço recompensado com um pôr do sol que dizem ser indescritível.

O nome da cidade

A história desse nome curioso está representada no centro da cidade.

Antiga fonte que recorda a história do nome da cidade - foto: Nicole Quintão

Dom Pedro II enviou uma expedição para pesquisas na região, e os homens acamparam onde hoje fica a pracinha central da cidade. Com fome, eles puseram-se à espera de possíveis caças, abundantes na região. Todos os dias passados aqui foram de caças bem-sucedidas e, por isso, o lugar passou a ser chamado de Feliz Espera.

A chegada do trem

Implantado no século XX, o trem foi o meio de transporte responsável por fazer crescer o vilarejo, já que a construção da linha férrea o tornou um ponto de convergência com outros municípios entre Minas e também Espírito Santo. Sob o controle da Estrada de Ferro Leopoldina, a inauguração aconteceu em 1911. Nesse período a cidade em crescimento passou a ser conhecida como Ligação, por conta do entroncamento permitido a partir do trem.

No dia 17 de dezembro de 1938, o município de Espera Feliz foi criado, emancipado da cidade de Carangola, comarca vizinha, à qual pertencia até então.

As memórias que ficaram

Em 1971 a linha que ligava Espera Feliz ao sul do Espírito Santo foi fechada. Em seguida foi desativada a linha entre Carangola e Manhuaçu, o que significou o fechamento definitivo da estação em 1975.

O trem partiu e deu lugar aos ônibus. A antiga estação hoje é a rodoviária da cidade. Mas o trem não levou consigo as memórias. Os moradores da cidade sentem saudades do meio de transporte e de todo o encanto que ele exercia nas pessoas.

Atual Terminal Rodoviário. Antiga estação na cidade - Foto: Nicole Quintão

Mariana Gomes, moradora da cidade desde que nasceu, diz que não fez muitas viagens de trem, mas se lembra com saudade de uma ida ao Rio de Janeiro. Viagem que durou dois dias e duas noites. Ela lembra que não era muito confortável, mas era um meio de transporte que ia muito devagar, então eles conseguiam apreciar bem a paisagem. Inclusive, algumas pessoas, se viam alguma árvore frutífera, desciam, pegavam as frutas e conseguiam correr e apanhar o trem.

Outra recordação da moradora é a comunicação que os habitantes da cidade faziam com quem estava no trem. Segundo ela, as pessoas adoravam ir ver o trem passar e ficavam dando adeus. Os viajantes e os moradores, que iam ficando, lentamente, para trás se alegravam junto com essa interação. Para ela, todo o conforto que temos hoje não é capaz de apagar essa recordação tão bonita.

“Quando eu era pequena, o meu pai – Geraldo – era cocheiro de trole. Ele e mais outro ficavam dentro de um carro, um pouco menor que o vagão do trem, com rolamentos de metal. Eles iam com uma espécie de bastão pelos trilhos empurrando o veículo. Eu me lembro de andar nele com meu pai e era muito legal. Andar de trem era uma experiência divertida para nós, já fui até Caiana e Carangola (cidades vizinhas). Eu na época tinha dez anos. Era possível ver as lindas paisagens durante o trajeto. Acho difícil ver de novo esse meio de transporte, mas tenho saudades.” Nora Nei Gonçalves, moradora de Espera Feliz há mais de 40 anos.

Ciléia Frauches recorda as memórias do trem

Para o Esperafelicense o trem foi um meio de transporte importante. Sem exageros, talvez seja possível dizer que hoje a cidade existe por conta de um dia o trem ter passado por ali. Através dele as pessoas chegaram à região e foram se estabelecendo, enquanto outros puderam ir atrás de oportunidades no Rio de Janeiro por exemplo.

Erli de Souza cresceu na zona rural de Espera Feliz. Quando jovem foi, junto ao irmão, tentar a vida no Rio de Janeiro. Com nostalgia recorda a viagem que fizeram. Saíram no sábado às três da tarde e chegaram ao Rio no domingo ao meio dia. A madrasta – Tereza – preparou para os meninos um frango assado. Os dois chegaram a terras fluminenses degustando a iguaria mineira. Depois de algum tempo na cidade grande, Erli voltou a morar em Espera Feliz. Já o irmão ficou e adicionou o chiado carioca ao sotaque. Experiência permitida pelo trem e que até hoje é lembrada com carinho.

Ainda mais curioso

Se considerarmos a história e as memórias que povoam o imaginário de muitos na pequena cidade, um monumento, a réplica de um trem ou mesmo de um vagão seria uma bonita homenagem aos antigos ferroviários. Um presente à suas famílias e ao povo que tanto amava ver o trem passar. Acho que ainda não pensaram nisso. Ainda da pra ver o pontilhão por aqui, é verdade.

Pontilhão em Espera Feliz - Foto Jornal "O Roteiro"

Pontilhão em Espera Feliz - Foto: Jornal "O Roteiro"

Mas, há na cidade outra coisa, que nada tem em comum com o trem, ou mesmo com Espera Feliz, mas que está lá entre os monumentos da cidade. Chega a ser engraçado, mas está lá para prestar uma homenagem.

Pensando melhor, consigo achar coisas em comum. Esse monumento traz em si um trem e por ele também, podemos dizer que se espera feliz. Ficou curioso?

Pense nas dicas. Nós vamos mostrar que outro monumento é esse que chegou a Espera Feliz. Volta aqui na quinta e juntos descobriremos a curiosidade.


 
 
 

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